Aceitar ou Morrer
Ângela percebeu que estava perdida no mundo, a família estava distante, amigos? Nenhum. Então tinha que resolver o que o fazer. A cidade era grande e desconhecida. Estava por sua conta em risco, arrumaria um emprego, pensou, onde? Muito pobre e abandonada pela sorte tentaria se virar, mas descobriu que a violência esta à sua frente porque muitos tentaram aproveitar e abusar dela. De repente ela tinha percebido quanto à vida pode ser cruel e reconheceu que não somos iguais mesmo que a lei diz: “todo cidadão é igual perante a lei”. Ela resolveu então tomar uma atitude.
Tentar mudar a sua vida e a de todas as pessoas que como ela são esquecidas pelos governantes. Ângela sentou-se em um banco de madeira da praça central com um olhar vazio. Observava as pessoas caminhando felizes com seus animais de estimação. Pessoas que Ângela acreditava que não sabia o que era violência, nem fome, nem frio. E ainda fala-se, por aí, que em nosso país todos são iguais perante a lei? Pensava Ângela com a barriga roncando de fome.
Um adolescente lhe entrega um folheto. Ângela pega-o e começa a ler:
“Será que o nosso neo-liberalismo é a melhor opção para o nosso país?
Cuba está saindo do capitalismo, lutando para introduzir o socialismo em seu país.
E você de que lado está? Chega de fome e miséria venha lutar ao nosso lado. Vamos dizer que realmente somos iguais”
Ângela levanta-se do banco da praça e compra um jornal de classificado,com os poucos trocados que tinha em seu bolso. Abre-o nos anúncios de empregos e se interessa por uma vaga de garçonete. Olhou o endereço e logo percebeu que era próximo da região onde ela dorme. Caminhou até o restaurante e informou-se sobre a vaga com o garçom. Ele chama o gerente para fazer a entrevista com Ângela. O gerente a chama para conversar na sala da gerência. Ângela entrou na sala e o gerente não demonstrou muito satisfeito com sua aparência, franzindo a testa. O gerente a cumprimentou e perguntou.
- Qual o seu nome
- Ângela Aparecida.
- Ângela, você já trabalhou como garçonete?
- Não, fiz apena bicos.
- Quais tipos de bicos?
- Cuidei de crianças.
- Babá?
- Sim.
- Ok.
- Você tem algum problema com a justiça?
- Não.
- É casada? Tem filhos?
- Não.
- Tem... Casa?
- Não.
- Desculpe Ângela... Você não é o que procuramos. Estamos à procura de pessoas com experiência e que tenha mais presença.
Ângela saiu da sala triste e sem entender o motivo da rejeição do gerente. Voltou novamente para a praça central, sentou-se novamente no banco de madeira, mas agora algo a incomodava. Levantou-se e percebeu que havia uma carteira. Abriu-a e estava com muito dinheiro. Novamente sentou perguntando-se de quem seria àquela carteira. Ouviu um latido, olhou para frente e viu um senhor cego com seu cachorro, que lhe perguntou:
- Senhorita qual o seu nome?
- Ângela senhor.
- Hum. Senhorita Ângela, estive aqui hoje. Ao chegar em casa notei que minha carteira não estava comigo. Pensei em duas alternativas ou me roubaram, ou eu a perdi.
- Senhor como é a sua carteira?
- Senhorita eu não enxergo.
- Desculpe.
Ângela abriu a carteira novamente para ver os documentos. Pegou o R.G e observou a foto, que era a do senhor que estava a sua frente.
- Hoje o senhor está com sorte, está aqui.
- Oh! Muito obrigado. Senhorita o que você faz aqui?
- Eu moro aqui. Bom, literalmente aqui.
- Hum. Você é moradora de rua?
- Sim, mas tenho pessoas que me ajudam. Bom, não da melhor forma. Tratam-me muito mau e com violência.
- São pessoas sem coração minha querida. Estou ficando velho como você pode ver. Estou procurando alguém para cuidar de mim. Gostaria que fosse você, já que não temos família. Irei te contratar como babá. A não ser que você não queira.
– Sim, eu quero, mas não tenho experiência nenhuma.
– Pare com isso... vamos... temos uma longa caminhada até em casa.
Ângela foi guiando o senhor, feliz e satisfeita.
Percebemos que no mundo ninguém é igual, existem pessoas boas e outra nem tanto. Depois de muitos anos formou-se na faculdade de direito e prestou um concurso publico para juiz. Enfim, lutou contra a violência ao seu modo.
Hoje ela emprega a paz e o respeito em periferias, através de organizações em que coordena várias atividades culturais.